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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Bernardo Soares

As misérias de um homem que sente o tédio da vida...

As misérias de um homem que sente o tédio da vida do terraço da sua vila rica são uma coisa; são outra coisa as misérias de quem, como eu, tem que contemplar a paisagem do meu quarto num 4º andar da Baixa, e sem poder esquecer que é ajudante de guarda-livros.

«Tout notaire a rêvé des sultanes»...

Tenho um prazer íntimo, da ironia do ridículo imerecido, quando, sem que alguém estranhe, declaro, nos actos oficiais, em que é preciso dizer a profissão: empregado no comércio. Não sei como inserto o meu nome vem assim no Anuário Comercial.

Epígrafe ao Diário:

Guedes (Vicente), empregado do comércio, Rua dos Retroseiros, 17-4º.

Anuário Comercial de Portugal

A mania do absurdo e do paradoxo é o animal spirits dos tristes. Como o homem normal, diz disparates por vitalidade, e por sangue dá palmadas nas costas de outros, os incapazes de entusiasmo e de alegria dão cambalhotas na inteligência, a seu frio modo fazem os gestos quentes da vida.

s.d.

Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990.

 - 180,1.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.