Farei do sonhar-te o ser forte, e a minha pena quando fale a tua Beleza,
Farei do sonhar-te o ser forte, e a minha pena quando fale a tua Beleza, terá melodias de forma, curvas de estrofes, esplendores súbitos como os dos versos imortais.
Creêmos, ó Apenas-Minha, tu por existires e eu por te ver existir, uma arte outra do que toda a arte. Do teu corpo de ânfora inútil saiba eu tirar a alma de novos versos e do teu ritmo lento de onda silenciosa saibam os meus dedos trémulos ir buscar as linhas pérfidas de uma prosa virgem de ser ouvida.
O teu sorriso melodioso indo-se seja para mim símbolo e emblema visível do soluço calado do inúmero mundo ao saber-se erro e imperfeição. As tuas mãos de tocadora de harpa me fechem os olhos, as pálpebras quando eu morra de ter dado a construir-te a minha vida. E tu, que não és ninguém, serás para sempre, ó Suprema, a arte querida dos deuses que nunca foram, e a mãe virgem e estéril dos deuses que nunca serão.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
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