O céu de estio prolongado todos os dias despertava de azul verde baço,
O céu de estio prolongado todos os dias despertava de azul verde baço, e breve se tornava de azul acinzentado de branco mudo. No ocidente, porém, era da cor que lhe costumam chamar, a ele todo.
Dizer a verdade, encontrar o que se espera, negar a ilusão de tudo — quantos o usam na subsidência e no declive, e como os nomes ilustres mancham de maiúsculas, como as de terras geográficas, as agudezas das páginas sóbrias e lidas!
Cosmorama de acontecer amanhã o que não poderia ter sucedido nunca! Lápis-lazuli das emoções descontínuas! Quantas memórias alberga uma suposição factícia, lembras-te, visão somente? E num delírio intersticiado de certezas, leve, breve, suave, o murmúrio da água de todos os parques nasce, emoção, do fundo da minha consciência de mim. Sem ninguém os bancos antigos, e as áleas alastram onde eles estão a sua melancolia de arruamentos vazios.
Noite em Heliópolis! Noite em Heliópolis! Noite em Heliópolis! Quem te dirá as palavras inúteis, me compensará a sangue e indecisão?
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
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