A. Mora — Parte II
A. Mora — Parte II
A moral, opondo‑se à ciência, que é a teoria do que é — é a teoria do que deve ser. O próprio facto, porém, de existir uma teoria do que deve ser, conduz, já de si, a uma conclusão. Como surgiria a teoria de alguma coisa que deve ser? Pela insatisfação com o que é. Mas, a insatisfação com o que é, implica uma inadaptação ao meio; e, uma inadaptação ao meio implica uma morbidez.
(?) Conclui‑se, portanto, que o senso moral é essencialmente mórbido, porque é mórbido na sua origem.
O mesmo, porém, acontece com a filosofia, que é a teoria do que é. Para quê uma teoria do que é, se o que é existe, sem teorias? É que o que é não é inteiramente compreendido por nós; e, portanto, para nós, não é inteiramente. Por isso nos aplicamos a querer inteiramente compreendê‑lo.
Pelo que provei na primeira parte deste livro, pode já calcular‑se qual o valor desta especulação. Procurar compreender o mundo é, já o vimos, uma frase desprovida de sentido; e já vimos também, complexamente, porque o é. Ilegítima, portanto, como procura da «verdade», qual é o papel da actividade filosófica; e que relação tem com ela a actividade propriamente científica?
Demonstrabilidade de como a evolução se faz (a envolve) por uma espécie de degenerescência do estádio anterior, de uma decadência. O orgânico é uma doença do inorgânico, porque implica um devir das suas leis; o social é um desvio do orgânico, do zoológico; porque — ut supra — a essência da actividade social consiste, causadamente em uma inadaptação ao meio. A subsistência, porém, implica uma nova adaptação; portanto o que há é qualquer violenta (especial) desadaptação que envolve a necessidade de um esforço adaptativo tão violento que gera um novo método adaptativo. [...]
Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
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