Meu orgulho, porém, nunca sofreu que eu me permitisse…
Meu orgulho, porém, nunca sofreu que eu me permitisse menos que o que a minha inteligência poderia fazer. Nunca pude conceder a mim mesmo a autorização para o meio termo, para qualquer coisa menos na obra que a minha personalidade inteira e o meu desejo todo (e a minha ambição toda). Se eu houvesse reconhecido na minha inteligência uma incapacidade para a obra sintética, teria sofreado o meu orgulho, reconhecendo-o por loucura. Mas a deficiência não esteve nunca na minha inteligência capaz sempre de grandes sínteses e de poderosas sistematizações. O meu mal estava na tibieza da vontade ante o esforço medonho que essas inteirezas envolviam.
Ficção e Teatro. Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Europa-América, 1986
- 45.1ª publ. in Obra Poética . Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas de Maria Aliete Galhoz.). Rio de Janeiro: Ed. José Aguilar, 1960