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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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António Mora

Não repararam na natureza da arte.

Não repararam na natureza da arte.

Procura a arte imitar a Natureza; mas imitá-la completamente. À obra de arte, porém, dado que é produto do pensamento e não da natureza, falta uma coisa — a vida. Por isso a “imitação completa” que da natureza procura o artista tem de encontrar maneira de dar a vida à obra de arte.

É que a arte compõe-se de 3 elementos: 1) imitação, 2) vitalização; 3) (...)

(Copia a arte a Natureza, e por Natureza aqui se entende tudo, desde os nossos íntimos pensamentos até às árvores e às pedras. Não procura a arte reproduzir, dar a nossa sensação simplesmente; mas dar da nossa sensação aquilo que mais traduza a realidade dela).

A arte deve: 1) dar o objecto ou sentimento tal qual foi sentido; 2) vitalizá-lo para dar a impressão de realidade; 3) coordenar as fórmulas de vitalização empregadas.

— A arte, como a ciência, supõe a eliminação do factor pessoal. Não viram isto os artistas modernos.

A arte difere da ciência — não, como modernamente se crê, em que a Arte é subjectiva, e a ciência objectiva — mas em que a ciência procura interpretar e a arte criar.

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De aí o conceito moderníssimo da Arte que confunde vitalizar com deformar.

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A arte moderna procura interpretar o que vê. Ora interpretar é o papel da ciência.

A ciência procura compreender uma coisa por meio das outras, interpretar uma série de fenómenos por meio de todas as outras séries de fenómenos (que para isto sirvam).

A arte procura reproduzir sem interpretar (daí o contraste vulgar entre o génio e a “inteligência fraca” de certos homens superiores).

1915?

Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.

 - 23.

O Regresso dos Deuses?