A arte é a interpretação individual dos sentimentos gerais.
A arte é a interpretação individual dos sentimentos gerais. Se é a interpretação de sentimentos só individuais, não tem base na compreensão alheia. E deixa de ter um limite. Porque sendo sem número os sentimentos individuais, não se pode nunca definir o que é arte, ou o que não é arte, dado que cada qual traz a sua arte consigo.
O romantismo, no fundo, é uma confissão de falência. Longe de ter sido uma renovação da arte, foi uma incapacidade de a renovar. Tinham-se gasto as fórmulas clássicas? Não se tinham gasto as fórmulas clássicas. O que se tinha gasto era a inspiração dentro delas. Para encontrar uma nova inspiração, foi mister saltar fora das regras. Por isso disse que o romantismo — pois que é uma incapacidade de trabalhar dentro de limites — é uma incapacidade de renovação artística.
O único modo de renovar a arte é substituir um conceito do universo a outro. Para isso não faz mister alterar as formas clássicas da arte. Basta alterar o que se exprime, para a expressão quedar alterada. O romantismo é uma tentativa de reformação da arte de fora para dentro, em vez de dentro para fora.
Se repararmos em quais são as coisas essenciais da poesia, facilmente nos convenceremos de que são coisas em
que não é preciso tocar para reformar a arte. Uma é a construção, outra é a Weltanschauung.
Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.
- 25.O Regresso dos Deuses?