SONHO TRIANGULAR
SONHO TRIANGULAR
No meu sonho no convés estremeci — é que pela minha alma de Príncipe Longínquo passou um arrepio de presságio...
Um silêncio ruidoso a ameaças invadia como uma brisa lívida a atmosfera visível da coberta.
Tudo isto é haver um brilho excessivo a inquietá-lo no luar sobre o oceano que não embala já mas estremece; tornou-se evidente — e eu ainda os não ouvi — que há ciprestes ao pé do pobre do príncipe.
O gládio do primeiro relâmpago [...] vagamente no Além... É cor de relâmpago o luar sobre o mar alto e tudo isto é ser ruínas já e passado afastado o meu palácio de príncipe que nunca fui...
Com um ruído soturno e afundando-se o navio entre as águas, a coberta escurece lividamente, e: [...] Não morreu, não está preso [...], não sei o que é feito dele — do príncipe — que gélida coisa desconhecida lhe é o destino agora?
Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990.
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