Álvaro de Campos é um dos maiores ritmistas que jamais houve. - T
Álvaro de Campos é um dos maiores ritmistas que jamais houve.
É o mais violento de todos os escritores. O seu companheiro Whitman é tímido e calmo comparado com ele. Mas o mais turbulento dos dois poetas é o mais autocontrolado. É tão violento que parte da energia dessa violência é aproveitada para disciplinar a sua própria violência.
[…
A sua emoção vulcânica, a sua violência de sensação, a sua mudança impressionante da violência para a ternura, duma paixão pelas coisas grandes e estrondosas, para um amor pelas coisas humildes e tranquilas, as suas transições ...], os seus súbitos silêncios, súbitas pausas... a sua oscilação de humor, ora instável, ora estável ninguém ainda o conseguiu igualar neste histerismo da nossa era.
O treino clássico dos seus primeiros anos que nunca o abandona (ele é, de
facto, um dos poetas com mais sentido da unidade, e é sempre um construtor e
um ordenador de partes num todo orgânico); a sua instabilidade individual, o
seu treino matemático e treino científíco, acrescentando outra influência estabilizadora (nunca demais para um temperamento tão violento) (...)
O seu intenso desprezo pelas coisas mesquinhas, pelas pessoas mesquinhas, por toda a nossa época porque é constituída por coisas e pessoas mesquinhas.
Este quase-futurista que ama os grandes poetas clássicos porque eram grandes e despreza os literatos do seu tempo porque são todos mesquinhos.
A sua arte de comunicar as sensações com uma simples frase: ...]
A sua terrível auto-análise ...]
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa. Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 193.Trad.: Christopher Auretta