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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Bernardo Soares

Como quem, roçando um arco às vezes

(early morning)

 

Como quem, roçando um arco às vezes

        Por um violino, ao acaso,

Súbito som excessivamente belo e saudoso

        Ouve-se, e não se pode encontrar outra vez,

 

Às vezes, sou certos gestos súbitos do Momento,

        Gemo irrespiradas sensações...

E são um tédio repentino à cor e à hora das coisas

E uma lamúria e longínqua paixão de não estar no mundo.

 

Árvores longínquas que esperam por mim desde Deus...

Paisagens mais perto da alma... Ou são grandes pálios

Em procissões interminavelmente a mesma...

Levando-me num triunfo de coisa nenhuma, sonolento e voluptuoso,

E perdido fico no Tempo como um momento em que se não pensa em nada...

20-11-1914

Livro do Desassossego po Bernardo Soares. Vol. II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição de textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982

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