Bernardo Soares
Aos deuses uma coisa se agradeça:
Aos deuses uma coisa se agradeça:
O sono. A vida esqueça
Já que não pode nunca ser feliz.
Por isso, com um rito definido
Encostemos a fronte ao travesseiro
E deponhamos como ante um juiz
O nosso anseio derradeiro.
Sim, o sono, o sossego, o não ser nada
A morte sempre ansiada
[...]
No sossego da fronte que repousa
Alheia a toda a coisa.
O apagamento, bem ou mal, de tudo.
13-1-1920
Livro do Desassossego po Bernardo Soares. Vol. II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição de textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982
- 272.