SONHO
SONHO
Sonhei esta existência de venturas,
Sonhei que o mundo era só d'amor,
Não pensei que havia amarguras
E que no coração habita a dor.
Sonhei que m'afagavam as ternuras
De leda vida e que jamais palor
Marcou na face humana as desventuras
Que a lei de Deus impôs com rigor.
Sonhei tudo azul e cor-de-rosa
E a sorte ostentando-se furiosa
Rasgou o sonho formoso que tive;
Sonhando sempre eu não tinha sonhado
Que n'esta vida sonha-se acordado,
Que n'este mundo a sonhar se vive!
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 106.1ª publ.:
«Fernando Pessoa: a sua estreia aos 14 anos e outras poesias de 1902 a 1905». Pedro da Silveira. In Revista da Biblioteca Nacional , série 2, vol. 3, nº 3. Lisboa: Set.-Dez. 1988.