Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Dr. Pancrácio

SONHO

SONHO

Sonhei esta existência de venturas,

Sonhei que o mundo era só d'amor,

Não pensei que havia amarguras

E que no coração habita a dor.

Sonhei que m'afagavam as ternuras

De leda vida e que jamais palor

Marcou na face humana as desventuras

Que a lei de Deus impôs com rigor.

Sonhei tudo azul e cor-de-rosa

E a sorte ostentando-se furiosa

Rasgou o sonho formoso que tive;

Sonhando sempre eu não tinha sonhado

Que n'esta vida sonha-se acordado,

Que n'este mundo a sonhar se vive!

24-5-1902

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

 - 106.

1ª publ.:

«Fernando Pessoa: a sua estreia aos 14 anos e outras poesias de 1902 a 1905». Pedro da Silveira. In Revista da Biblioteca Nacional , série 2, vol. 3, nº 3. Lisboa: Set.-Dez. 1988.