Ao pedido que me foi feito, para que prefaciasse a primeira edição…
Ao pedido, que me foi feito, para que prefaciasse a primeira edição dos poemas do reconstrutor da essência do paganismo, não serviu, infelizmente, de excusa a minha alegação de incompetência ante os teóricos, e de insuficiência ante a figura do Mestre. Quiseram aqueles parentes de Caeiro, que se encarregaram de lhe publicar a obra, que ela não deixasse de ser precedida de uma explicação, que lhe determinasse o espantoso lugar entre a literatura poética. E, se por fim acedi, é que talvez melhor conviesse a um crente nos Deuses antigos, do que a qualquer outro, a apresentação ao público desta obra.
Se é extensa a apresentação, medite-se que é necessário que o seja. Afirmar que Alberto Caeiro é o reconstrutor do Paganismo, sem mais, tem a desvantagem de (...) dado que ninguém sabe o que é o paganismo, nem, portanto, o que possa ser reconstruí-lo.
Não vou entrar, evidentemente, em um estudo diferencial do espírito pagão, e do cristista. Obra era essa para um livro, e não pequeno. O meu propósito, neste lugar, é definir em que é que Alb[erto] Caeiro é o reconstrutor do paganismo, o revelador da sua essência perdida; para o fazer tenho de indicar claramente qual é essa essência, depois em que é que, até Caeiro, a falhou na obra que ele conseguiu.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 383.Prefácio a Caeiro. N. do A.: «Mora ou Pessoa»