Nesta obra vemos a matéria primária (primordial) do paganismo.
Nesta obra vemos a matéria primária (primordial) do paganismo, a matéria que, ao receber a forma, a recebe pagã. O que os pagãos não disseram, aqui é (está) dito; e por isso é esta obra o verdadeiro renascimento do paganismo.
O Destino, ninguém o sabe. O que há-de vir, não o dão os deuses a saber. Mas foi porventura deste humilde português, que viveu desconhecido e contente que falou, em tempos, a profecia obscura de Nostradamo:
Au plus profond de [l'occident d'Europe].
Se tal alcance no espaço e tempo está destinado a esta obra, ninguém, repito, o pode dizer. O que sei é que deste canto do mundo, le plus profond de l’occident d’Europe, voz não partiu nem poderá partir que dê à terra maior novidade mental.
Vária é a fama e os tempos muitos. Tudo pode acontecer. Uma justiça, porém, têm os deuses para com quem se lhes assemelha. E se os deuses têm poder em mudar as formas da natureza, poder é semelhante ao dos deuses o de mudar as formas de conhecer a natureza. Assim este homem fez.
Quem ler o que ele escreveu, e o compreender, quando erguer os olhos do livro encontrará um novo mundo. Que digo? Um novo mundo, não: o mundo mais antigo de todos - o mundo real tal qual os deuses no-lo deram, a face primeva e constante da terra verdadeira, das coisas reais e dos homens na sua naturalidade.
Quem ler esta obra e lhe não errar o sentido, não mais poderá duvidar da certeza externa das coisas, que o espiritualismo de nossos maiores velou e o artifício [?] dos nossos pais esqueceu.
Grande coisa é, e magna obra, revelar ao mundo, não como Cristo, o que se não vê nem se pode ver mas, como este homem, o que se viu sempre e sempre poderá ser visto.
E quando não fora a virtude que a obra tem, por verdadeira, quedaria ainda a que lhe cabe, por sadia.
A sua leitura é um exorcismo para os maus sonhos, a magia simples com que se afugenta (...) e os espectros e recolhem lívidos ao Frebo os miasmas da noite e da morte. Como no alto das montanhas o ar é diverso, e a paisagem outra, aqui é a mente mais pura e o espírito mais vasto e repousado.
Aqui a febre dos nossos sonhos cristãos se acalma, e se cura a doença das nossas ambições estéreis e das nossas agitações inconsumíveis. Obra digna, decerto, do amor dos deuses, esta, que, sem falar neles, não é senão o sentido e do seu culto. A um tempo metafísica nova e religião velha; esta obra é um repouso e um livramento, um refúgio e uma libertação.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 364.Prefácio a Caeiro


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