Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocínio é falso;
Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocínio é falso; e tudo quanto é abdicação é falso também.
Pudesse eu saber como não agir nem abdicar de agir! Seria essa a coroa-de-sonho da minha glória, o ceptro-de-silêncio da minha grandeza.
Eu nem sofro. O meu desdém por tudo é tão grande que me desdenho a mim próprio; que, como desprezo os sofrimentos alheios, desprezo também os meus e assim esmago sob o meu desdém o meu próprio sofrimento.
Ah, mas assim sofro mais... Porque dar valor ao próprio sofrimento põe-lhe o ouro ideal do orgulho. Sofrer muito pode dar a ilusão de ser o Eleito da Dor. Assim (...)
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
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