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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Bernardo Soares

INTERVALO [d]

INTERVALO

O homem que na avenida fugia das folhas e dos papéis que o vento arrastava atrás dele.

Na matemática [...] a do problema do momento, inquietantemente, subira ao problema metafisicamente considerado.

Descobrira que cada coisa era a origem de todo o movimento que fizera. O vento não arrasta a folha. Desperta nela a capacidade de se mexer. Mas nos ínfimos o impulso exterior é maior.

A folha, por exemplo só pode mexer-se ao sabor dos impulsos exteriores; mas isso não quer dizer que não se mexa de per si, que não tenha alma (para se mover!)

As coisas falam aos meus olhos apavorados.

O movimento é a vida, o sinal da vida.

Transmitir movimento é pois ou transmitir vida ou despertar vida. Vida não se pode transmitir. Só portanto despertar. Para a despertar é preciso que a haja onde a despertemos.

Uma pedra tem portanto vida, um grau ínfimo de vida talvez, mas sempre vida.

Vida é consciência.

s.d.

Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990.

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"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.