A sociedade chamada Os Filhos da Índia...
A sociedade chamada Os Filhos da Índia tem (informa Mrs. Besant) um artigo principal pelo qual os seus membros se obrigam a praticar todos os dias um acto de dedicação. À primeira vista, esta ideia parece nobre, vigorizadora, prática mesmo. Um exame mais cauto, porém, depressa [a] despe desses atributos que a nossa precipitação lhe descobriu. Se praticar pelo menos um acto de dedicação por dia fosse coisa que custasse, haveria ao menos a vantagem do desenvolvimento da vontade. Mas acontece precisamente que a dedicação das coisas mais fáceis deste mundo. A mulher que é um ser inferior, é ingenitamente dedicada, «serve» por temperamento, no sentido em que os teosofistas empregam este malogrado verbo. A Teosofia é um sistema criador de mulheres.
A natureza, porém, é mais subtil que os teosofistas. De tal modo estão as coisas arranjadas por ela neste mundo que servir-se cada um a si, completamente, energicamente e competentemente é ainda o melhor meio de servir os outros, querendo-se, mesmo no sentido altruísta que os teosofistas dão à palavra. Porque uma vontade forte pode ser muito mais útil do que uma vontade fraca.
A Teosofia, afinal, não passa de um sistema de filosofia indiana que, por tipicamente vago e lato, se adapta perfeitamente à ciência moderna, como, de resto, a ela se adaptaria se por acaso ela fosse precisamente ao contrário, quanto aos princípios em que assentou.
Fernando Pessoa et le Drame Symboliste: Héritage et création. Maria Teresa Rita Lopes. Paris: F. C. Gulbenkian, 1977.
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