Figuras hieráticas de hierarquias ignotas se alinham nos corredores...
Figuras hieráticas de hierarquias ignotas se alinham nos corredores a esperar-te — pajens de frescura loura, jovens de (...) em cintilares dispus de lâminas nuas, em reflexos irregulares de capacetes e adornos altos em vislumbres sombrios de ouro fosco e sedas.
Tudo quanto a imaginação adoece, o que de fúnebre dói nas pompas e cansa nas vitórias o misticismo do nada, a ascese da absoluta negação.
O Ganges passa também pela Rua dos Douradores. Todas as épocas estão neste quarto estreito — a mistura (...), a sucessão [...] de maneiras, as distâncias dos povos e a vasta [...] das nações.
E ali, em êxtase, numa só rua sei esperar a Morte entre gládios e ameias.
Não os sete palmos de terra fina que se fecham sobre os olhos fechados sob o sol quente e ao lado da erva verde, mas na morte que excede a nossa vida e é uma vida ela mesma — uma morte presença em deus, o ignoto deus da religião dos meus deuses que porventura Deuses lembram.
Livro do Desassossego. Vol.II. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1990.
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