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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Bernardo Soares

Sou uma roseira, sou um roseiral com rosas brancas,

Sou uma roseira, sou um roseiral com rosas brancas, sou uma roseira a meio de um jardim... Sou uma roseira com rosas brancas... Sou enfim real... Existo, existo... Sou todo eu em cada uma das minhas rosas... Floresço enfim...

Olha, as fontes correm, as fontes correm...

O que elas são! São felizes e são almas e são fontes. As árvores, as árvores são grandes espíritos alegres ao ponto de serem tão verdes e fazerem sombra.

Vede... sou uma roseira branca na minha realidade de alma... A minha verdadeira vida é toda aromática no Além... Ah mas que outra vida mais real que a da terra... Minha vida é profunda como uma morte absoluta...

Quando o vento sacode as árvores e os arbustos, eles às vezes traçam no chão gestos de recortes humanos. O perfil das coisas é humano muitas vezes. É para que aos homens seja sugerido que as coisas são símbolos.

Quem te diz que eu não sou uma roseira branca e este corpo que pelos olhos conheces, o meu mero perfume... És cego realmente, e só apreendes o meu perfume irreal sob a forma real de visão...

s.d.

Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990.

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"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.