Uma coisa queremos
Uma coisa queremos
Outra coisa fazemos.
Quem quer somos nós sós
Quem faz não somos nós.
Quem somos tem o intuito
Quem não somos o fruto
Alheio à intenção.
Todos não são quem são.
Uma coisa é a verdade,
Outra a realidade.
O que existe não tem
Que ver com haver alguém.
Alheio a nós o mundo,
Num sentido profundo,
Por leis e reis se guia
Em que a nossa energia,
O nosso sentimento,
O nosso pensamento
São elementos falsos...
Assim, a pedra incerta
Que a criança irrequieta
Atira ao vácuo do ar
Vai às vezes parar
Onde magoa ou fere
Não o que a criança quer
Mas o que o Fado quis
Por isso a pedra infeliz
O Destino atirou,
Nunca quem a lançou.
Outros somos. Morremos
A vida que vivemos.
Quem é nós não é nada.
Passa quem és na estrada
Da nossa consciência.
Para isto não há ciência.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
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