Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
António Mora

Os princípios pagãos do governo social são:

Os princípios pagãos do governo social são:

(1) o direito das aristocracias; isto é, a superioridade dos dirigentes natos aos dirigidos natos: princípio da desigualdade social;

(2) o direito do sexo masculino: princípio da desigualdade sexual;

(3) o direito das nações cultas a governar as nações bárbaras; ou seja, o princípio de desigualdade nacional.

Para a execução destes direitos é mister que haja

(1) a ordem social, que permita a força social estar com as minorias educadas; o que só se consegue quando a norma directriz das sociedades se encontra focada nas suas aristocracias, isto é, quando é uma norma que o povo (a plebe) sente mas sente que não compreende;

(2) a ordem sexual, quando as circunstâncias sociais não tendem a estabelecer uma igualdade de sexos;

(3) a ordem nacional, quando a força é dos cultos.

Modernamente há a subversão total deste critério:

(1) pela democracia, que põe o critério decisivo no número, não na inteligência.

(2) pela pressão económica, que, atirando as mulheres para a vida extra-doméstica, tende fatalmente a estabelecer essa igualdade com os homens.

(3) pelo critério brutal da força, que tende a implicar que quem deve mandar é o mais forte.

Assim se aliam, no critério, os aliados e os alemães nesta guerra, cada qual representante das fórmulas anárquicas da decadência.

É, como no império decadente, o domínio do escravo, da mulher e do soldado. O domínio do escravo, porque do maior número; o da mulher, porque do sentimento sobre a razão; o do soldado, porque, na instabilidade e na decadência social, manda quem bate.

Sempre que, num período social, o sentimento manda mais que a razão, ver-se-á que a mulher tende a mandar também, de uma maneira ou de outra, por uma, ou outra, razão. O romantismo foi uma invasão feminina.

s.d.

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

 - 392.