[Cartas a João Gaspar Simões - 16 Jun. 1932 ]
Apartado 147.
Lisboa, 16 de Julho de 1932.
Meu querido Gaspar Simões:
Queria escrever-lhe logo que recebi e li o último número da Presença, mas tenho estado doente e só agora tenho ocasião de lhe escrever.
Felicito-o, e é como sinceridade, pela sua resposta ao António Sérgio. Tem vigor e lógica; é muito mais concentrada e intensa, apesar de maior, do que a primeira. Não vejo, de facto, qual o motivo – a não ser que a extensão o fosse – que levou a Seara Nova a não inserir esse artigo. E certo que, aqui e ali, é contundente para o Sérgio; não o é, porém, mais do que o artigo dele fora. E, seja como for, não sai fora das normas em que a questão foi posta.
Por mim, em coisas destas, prefiro ver a frieza absoluta, que trata o adversário como se ele fosse só o que escreveu. Assim, até lhe lembrei (o que peço me releve) que deveria ser esse o seu tom ao responder. Reconheço, porém, depois de ler o seu artigo, que aceitou a questão no campo em que lha puseram, o que em nenhuma hipótese se lhe poderá levar a mal.
Gostei muito, aliás, de todo o número da Presença, incluindo os reparos do Adolfo Casais Monteiro ao meu prefácio a Acrónios . Talvez faça uma breve nota esclarecendo o que ele quer que eu esclareça. Neste momento ainda estou sob os reflexos da doença que tive, e, aliás, proibido pelo médico de trabalhar muito. Não que a Nota Explicativa exija muito espaço ou tempo; o que exige é disposição, e essa, por enquanto, falta-me.
Creia-me o amigo e admirador de sempre.
Fernando Pessoa.
Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982).
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