A condição social moralista manifesta-se em três ordens de indivíduos:
Considerações pós-revolucionárias
A condição social moralista [?] manifesta-se em três ordens de indivíduos: os cínicos, os tristes e os idealistas políticos. Todos três são partes integrantes da corrente da decadência nacional a que a implantação da República veio dar a condição de se poder destruir. Todos três, sendo elementos decadentes, são elementos perniciosos e irracionais. Podem pertencer aos mais "avançados" do partido da República: são reaccionários contudo, porque o ser reaccionário vem de estar integrado numa corrente social decadente e retrógrada, não necessitando de ter uma opinião política ligada a instituições extintas ou em extinção. Basta, para compreender isto, que reparemos em que o sentimento, e não a razão, é que é basilar na vida social. Sendo assim, é pelo sentimento que se deve medir socialmente um indivíduo. Há o sentimento (...)
Toda a tristeza é reaccionária; todo o pessimismo é retrógrado — porque, como sentimentos, pertencem sempre à corrente social que é desintegrante na vida das sociedades.
O cínico que diz "olhem à diferença dos bens", o triste que diz "tudo está na mesma", o idealista político desenganado que murmura "mas isto é uma república à francesa" — todos estes, por republicanos que julguem ser, são realmente monárquicos, porque pertencem à corrente social decadente, cujo símbolo político é, e tem sido, no nosso tempo em Portugal, a monarquia. Todos manifestam uma morte — é a corrente social em que se integram. "Isto vai mal", segredam. Mas o sociólogo, que compreende isto, sabe que bom é que vá mal, e que o melhor que actualmente nos pode acontecer é isto não ir bem.
Todo o problema destes decadentes é útil só à monarquia — ora isto prova que está, sem o saber nem pensar, integrado na corrente cujo símbolo representativo é a monarquia. Pertence ao passado. E o passado não vive sem calma, (...), tristeza. [...] estas nossas anotações, quer de peritos republicanos que saiam, são apenas, junto ao gemido do passado que morre (...), o lamento daquela parte do passado que quer, mas não sabe porque não pode, adaptar-se ao presente.
A falta de optimismo é, no nosso momento actual, o distintivo exacto da monarquia que pertence ao passado. Por muito que nos irrite ouvi-los, calemo-nos sobre eles. Pobres inadaptados.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
- 10.


![[Fundação Calouste Gulbenkian]](http://s.arquivopessoa.net/images/fcg-logo-mini.png?1331495077)
![[CCDR-LVT]](http://s.arquivopessoa.net/images/ccdrlvt-logo-mini.png?1331495077)
![[PORLVT]](http://s.arquivopessoa.net/images/porlvt-logo-mini.png?1331495077)
![[FEDER]](http://s.arquivopessoa.net/images/feder-logo-mini.png?1331495077)
![[DGLB]](http://s.arquivopessoa.net/images/dglb-logo-mini.png?1331495077)
![[Ministério da Cultura]](http://s.arquivopessoa.net/images/mc-logo-mini.png?1331495077)
![[Fundação Luso-Brasileira]](http://s.arquivopessoa.net/images/flb-logo-mini.png?1331495077)
![[Assírio e Alvim]](http://s.arquivopessoa.net/images/assirio-logo-mini.png?1331495077)
![[Instituto de Estudos sobre o Modernismo]](http://s.arquivopessoa.net/images/iemo.png?1331495077)
![[Obra Aberta]](http://s.arquivopessoa.net/images/oa-logo-mini.png?1331495077)
![[Arte Numérica]](http://s.arquivopessoa.net/images/an-logo-mini.png?1331495077)
![[Intraneia]](http://s.arquivopessoa.net/images/intraneia-logo-mini.png?1331495077)