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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Alberto Caeiro

XLIII - Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,

XLIII

 

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,

Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.

A ave passa e esquece, e assim deve ser.

O animal, onde já não está e por isso de nada serve,

Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

 

A recordação é uma traição à Natureza.

Porque a Natureza de ontem não é Natureza.

O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

 

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

7-5-1914

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

 - 66.

“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.