Alberto Caeiro
- A manhã raia. Não: a manhã não raia.
- No dia brancamente nublado entristeço quase a medo
- Aceita o universo
- A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
- De longe vejo passar no rio um navio...
- Creio que irei morrer.
- A noite desce, o calor soçobra um pouco.
- Estou doente. Meus pensamentos começam a estar confusos,
- Todas as opiniões que há sobre a Natureza
- Navio que partes para longe,
- Patriota? Não: só português.
- Nunca busquei viver a minha vida
- Deito-me ao comprido na erva.
- Falaram-me os homens em humanidade,
- Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
- Rimo quando calha
- XVI - Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
- Estas quatro canções, escrevi-as estando doente.
- XXI - Se eu pudesse trincar a terra toda
- XXVII - Só a Natureza é divina, e ela não é divina...
- XLIV - Acordo de noite subitamente
- Quando eu não te tinha
- Todos dias agora acordo com alegria e pena.
- Agora que sinto amor
- A neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
- Se eu morrer novo,
- Quando vier a Primavera,
- Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
- Quando eu não te tinha
- Vai alta no céu a lua da Primavera
- É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância
- Nunca sei como é que se pode achar um poente triste
- Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
- Quando a erva crescer em cima da minha sepultura,
- Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
- XLII - Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
- XLIII - Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
- XLV - Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
- XLVI - Deste modo ou daquele modo,
- XLVII - Num dia excessivamente nítido,
- XLVIII - Da mais alta janela da minha casa
- XLIX - Meto-me para dentro, e fecho a janela.
- Não basta abrir a janela
- Falas de civilização, e de não dever ser,
- Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo
- XXII - Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
- XXIII - O meu olhar azul como o céu
- XXIV - O que nós vemos das coisas são as coisas.
- XXV - As bolas de sabão que esta criança
- XXVI - Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
- XXVIII - Li hoje quase duas páginas
- XXIX - Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
- XXX - Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
- XXXI - Se às vezes digo que as flores sorriem
- I - Eu nunca guardei rebanhos,
- II - O meu olhar é nítido como um girassol.
- III - Ao entardecer, debruçado pela janela,
- IV - Esta tarde a trovoada caiu
- V - Há metafísica bastante em não pensar em nada.
- VI - Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
- VII - Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
- VIII - Num meio-dia de fim de Primavera
- IX - Sou um guardador de rebanhos.
- Pouco a pouco o campo se alarga e se doura.
- Última estrela a desaparecer antes do dia,
- A água chia no púcaro que elevo à boca.
- O que ouviu os meus versos disse-me: Que tem isso de novo?
- Ah querem uma luz melhor que a do sol!
- Não tenho pressa. Pressa de quê?
- Sim: existo dentro do meu corpo.
- O PENÚLTIMO POEMA
- LAST POEM
- Talvez quem vê bem não sirva para sentir
- Pétala dobrada para trás da rosa que outros dizem de veludo.
- O quê? Valho mais que uma flor
- Sim, talvez tenham razão.
- Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.
- Todas as teorias, todos os poemas
- Para além da curva da estrada
- Leram-me hoje S. Francisco de Assis.
- Sempre que penso uma coisa, traio-a.
- Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes
- Como uma criança, antes de a ensinarem a ser grande,
- Não sei o que é conhecer-me.
- Como ele me disse uma vez: «Só a prosa é que se emenda.
- Leio, e sou límpido nas minhas intenções;
- Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
- Pouco me importa.
- A guerra que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
- Gozo os campos sem reparar para eles.
- Vive, dizes, no presente;
- Hoje de manhã saí muito cedo,
- O amor é uma companhia
- O pastor amoroso perdeu o cajado,
- Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
- Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
- Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,
- Verdade, mentira, certeza, incerteza…
- Uma gargalhada de rapariga soa do ar da estrada
- Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
- Ontem o pregador de verdades dele
- Tu, místico, vês uma significação em todas as coisas
- Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas
- Dizes-me: tu és mais alguma coisa
- A espantosa realidade das coisas
- Quando tornar a vir a Primavera
- XXXII - Ontem à tarde um homem das cidades
- XXXIII - Pobres das flores nos canteiros dos jardins regulares.
- XXXIV - Acho tão natural que não se pense
- XXXV - O luar através dos altos ramos,
- XXXVI - E há poetas que são artistas
- XXXVII - Como um grande borrão de fogo sujo
- XXXVIII - Bendito seja o mesmo sol de outras terras
- XXXIX - O mistério das coisas, onde está ele?
- XL - Passa uma borboleta por diante de mim
- XLI - No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
- X - «Olá, guardador de rebanhos,
- XI - Aquela senhora tem um piano
- XII - Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras coisas
- XIII - Leve, leve, muito leve,
- XIV - Não me importo com as rimas. Raras vezes
- XV - As quatro canções que seguem
- XVII - No meu prato que mistura de Natureza!
- XXVIII - Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
- XIX - O luar quando bate na relva
- XX - O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
- Sabeis bem como este livro é obra de uma vontade que lutou com a Natureza.
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