Uma crise social é simplesmente um meio violento e natural para eliminar...
Considerações pós-revolucionárias
Uma crise social é simplesmente um meio violento e natural para eliminar os fracos e os inúteis. Se toda uma nação ou uma sociedade cai abaixo, é que ela toda era inútil e fraca. É simplesmente isto. (A crise, ou crises, inglesa de 1770 a 1830.)
Da crise que começa em 1890 parecia concluir-se o afundar da nacionalidade e afinal resulta a fundação da república. Então podia haver — especialmente depois de falhar a revolta do Porto — dúvidas sobre a sorte da Nação. Hoje já não as pode haver. A revolução provou que a crise era não da nacionalidade, mas da monarquia, e das forças sociais de que ela era símbolo. A prova é que a monarquia caiu. Mas as forças monárquicas subsistem — o radicalismo republicano é uma delas. Resta agora destruir essas forças, o que custa mais do que destruir o seu símbolo. Quer dizer; continuamos em crise. Mas sabemos já, para bem nosso, que a crise é de salvação. O perigo era que a crise da monarquia se tornasse a crise nacional. A morte da monarquia provou o contrário e tanto mais nitidamente o provou quanto essa morte foi rápida e decisiva.
Sursum corda! — O primeiro passo é que custa, etc.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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