A Queda da Monarquia
Iconoclasta
A Queda da Monarquia
Dizer que o Sr. T[eixeira] de S[ousa] perdeu a m[onarquia] é o mesmo que dizer que a morte de um doente é causada pelo estado comatoso que a precede, ou pelo estertor que a anuncia, e não pela doença que a esse estado leva. O estado comatoso, o estertor, anunciam já que a morte toma posse do organismo. Do mesmo modo o governo do Sr. T. de S. anunciava que a revolução começava a abalar a m[onarquia]. A revolução começa em (...) de Junho e acaba em 5 de Outubro. Para que em tão reaccionário, mesquinho e (...) meio, tão (...) coito de ladrões e assassinos como era a m[onarquia] portuguesa, com tão idiótico rei (...) pudesse um homem relativamente a eles tão liberal como o Sr. T. de S. ser chamado ao poder era preciso que a revolução estivesse pronta.
Atribuir, depois disto, ao Sr. T[eixeira] de S[ousa] e ao seu gabinete a responsabilidade da queda da monarquia é cometer uma injustiça e uma infâmia talvez, e decerto dizer uma coisa ignorantemente estúpida. É ter por completo a ausência da noção do que sociologicamente seja a substituição de um regime a outro. Indica, esta teoria, em quem a sustenta, tão poderoso [?] afastamento da noção real e exacta das causas (sujas) que me revela imediatamente quão próxima da loucura colectiva estava a extrema-direita monárquica — a choldra franquista [...]
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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