A LINHAGEM DOS IMPERADORES
Bandarra
A LINHAGEM DOS IMPERADORES
Dois imperadores houve que reproduziram o tipo solar: Alexandre e Napoleão. [Para Alexandre cit. Para Napoleão, o estudo singular do Padre Peres — francês de origem portuguesa, como o prova o apelido — que, querendo fazer uma sátira ao sistema de (...), definiu, sem querer, a Napoleão como o Sol.]
Tanto Alexandre como Napoleão têm ainda de comum o facto de dominarem em um império a cuja nacionalidade não pertenciam. A dominação de Alexandre figura na história (à parte o seu nome propriamente histórico de império macedónio) como “Império Grego”; Alexandre, porém, era macedónio, e não grego. A dominação de Napoleão, não figurando como império francês, pois o não houve nem haverá, foi-o contudo da França, e Napoleão não era francês, mas italiano.
... o caso singular da grafia de Anticristo. Por vezes esta palavra escreve-se Antecristo (em francês escreve-se sempre Antecrist) e a língua francesa não segue uma ortografia sónica, senão etimológica. Parece haver a intenção de que a figura dada como Anticristo seja ao mesmo tempo Antecristo; em outras palavras, que seja contra por ser antes, e antes nos sentidos de “antes” e de “adiante”, como de quem “passasse adiante” de Cristo. A Napoleão chamaram anticristo, e chamaram bem. O próprio nome Ne-apoleon quer dizer, como provou O P.e Peres, «verdadeiro Satanás». De Alexandre se pode dizer, também, que era Antecristo, mas este no sentido de vir antes. Do Terceiro Imperador se dirá que é Antecristo no terceiro sentido, que é o único que falta aplicar — o de ir adiante de Cristo, como um arauto, na vanguarda do Segundo Adiante. E é essa, aliás, a interpretação do lmperador de 2198, em a qual convêm as profecias.
(Isto prova que o ano de 2198 traz um indivíduo e não só uma atmosfera ou um ambiente...)
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
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