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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Alberto Caeiro

XLIX - Meto-me para dentro, e fecho a janela.

XLIX

 

Meto-me para dentro, e fecho a janela.

Trazem o candeeiro e dão as boas-noites.

E a minha voz contente dá as boas-noites.

Oxalá a minha vida seja sempre isto:

O dia cheio de sol, ou suave de chuva,

Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,

A tarde suave e os ranchos que passam

Fitados com interesse da janela,

O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,

E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,

Sem ler nada, sem pensar em nada, nem dormir,

Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,

E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

s.d.

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

 - 72.
“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.