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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

TEORIA DA REPÚBLICA ARISTOCRÁTICA

TEORIA DA REPÚBLICA ARISTOCRÁTICA

A. De toda a teoria de qualquer modo de organização exigem-se três coisas:

(1) que seja adaptada à ideia de sociedade;

(2) que esteja na linha evolutiva da civilização do seu tempo;

e (3) que esteja de acordo com o temperamento do povo a que se destina que seja aplicada. Será a melhor teoria destas portanto:

(1) aquela que mais se adapte à ideia de sociedade, isto é, que mais ajude o que quer que seja que representa a vitalidade social.

(2) que mais de acordo esteja com o estado presente e tendências evolutivas da sociedade contemporânea, a que mais se integre no espírito e nas tendências da civilização contemporânea; porquanto:

(1) integram o povoa que se destinam nessa civilização.

(2) (...)

e (3) que mais se adapte ao temperamento do povo a que se pretende aplicá-la.

O 1.º caso determina se a teoria é viável.

O 2.º caso determina se a teoria é boa.

B. Uma teoria da organização social peca contra a ideia da sociedade quando:

(1) envolve ignorância dos princípios essencialmente constitutivos de uma sociedade — que são, que uma sociedade é composta de indivíduos e que esses indivíduos no seu conjunto formam um todo que não é uma mera soma;

(2) pretende eliminar da existência social elementos que as sociedades têm fatalmente que ter (uma teoria que quisesse suprimir a arte e a guerra);

(3) pretenda levar a sua acção fora do seu papel de mera organização social, querendo por exemplo alterar a sociedade nos seus fundamentos.

C. Uma teoria viola o princípio de civilização quando:

(1) (...)

(2) (...)

(3) (...)

[...]

Um sistema de organização social como é bom?

Ora numa sociedade as autoridades que representam a sua vida:

(1) ou são praticadas por indivíduos separados — como a arte;

(2) ou por indivíduos como membros de um grupo não de acção propriamente social — como a política — (porque a política cinde por sua natureza a sociedade);

(3) ou por indivíduos ou membros da sociedade cuja actividade não é senão social — como o comércio e a indústria, cuja mera natureza é já social, que não podem combater a sociedade.

Ora é evidente que numa sociedade tudo quanto tenda a cindi-la e quebrá-la em indivíduos contribui para a primeira destas actividades; tudo, quanto tenda a organizá-la em grupos contribui para a sociedade, tudo quanto a (...), tende para a [...] Resta saber qual deve preferir-se nessas tendências [...] É sabido, por evidente, que todos os três modos de acção social devem ser promovidos, resta averiguar como dependentemente; isto é, de que modo esses três modos se hierarquizam, para que, na hipótese de uma concentração de esforços num desses modos, para esse preferivelmente, lucidamente se dirijam, e para que, fora dessa hipótese (mera hipótese, aliás), saibamos como hierarquizar esse esforço.

Com respeito à Época:

(1) quais são as tendências intelectuais que subjazem às modalidades gerais da vida social contemporânea? (R. — tendência para a Crítica — tendência para o luxo, a visão entre a arte (...) — Daí antimonarquia, mais aristocratismo).

(2) Quais são as tendências definidamente políticas modernas? (Democracia — e a tendência para a disciplina).

(3) Quais são as tendências (económicas), etc.? —

(...)

s.d.

Ultimatum e Páginas de Sociologia Política. Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução e organização de Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1980.

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