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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

TROVAS DO BANDARRA [a]

TROVAS DO BANDARRA [a]

Primeiro Corpo das «Trovas»

1. Dedicatória do Autor a Dom João de Portugal, Bispo da Guarda.

2. Sente Bandarra as Maldades do Mundo e particularmente as de Portugal.

3. Sonho Primeiro, que finge a moda pastoril. (Começa na trova XXI — pág. 22 —, e continua até LXVII — pág. 32 — ; pertence-lhe também o complemento que consiste das trovas LXXXII a LXXXIV inclusive. Está incompleto este sonho pastoril.) Segue com os “Judeus” (tr. LXXXII a IV).

4. Prognostica o autor os males de Portugal, canta suas glórias com a aclamação do rei encoberto. (Começa na trova LXVIII, a pág. 33, continua até trova LXXXI, a pág. 36, depois seguem as trovas XIX e XX, a pág. 22, e depois as trovas XCV a XCVIII, inclusive, a pág. 41, e aqui termina.)

5. (Uma espécie de segunda parte do “Sente Bandarra” — supra n.º 2.) (Começa com as trovas XVII e XVIII, segue com as trovas CXXXVI a CLIX, págs. 49 a 53, e aqui acaba.)

ó. O chamado “Sonho Terceiro”, que vai da pág. 44 (trova CIX) a pág. 48 (trova CXXVIII). (Falta metade da trova CXXV, provavelmente.)

7. O chamado “Sonho Segundo”, que inclui — em que ordem mal se pode dizer — as trovas XCIV, depois XCIX a CVIII (sendo esta a última do sonho), e também as trovas LXXXV a XCIII.

8. Resposta do Bandarra a algumas perguntas que lhe fizeram.

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Segundo o Terceiro Corpo das Trovas — como estão na edição do Porto, 1866.

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Segundo Livro.

p. 56 et seq.

68. O “mal-francês” é o mal produzido pelos franceses, isto é, as invasões francesas. Depois delas ficou Portugal em subordinação da Inglaterra, a “leoa”, em cujo poder receia o Bandarra que Portugal fique. (Falta o 3.º sentido.)

69. O «leão espanhol» é a Espanha aspirando a dominar, ou a império; sem essa significação, a Espanha, ou Castela, são apenas a «grifa». «Vir quasi a Portugal» indica que ou não declara guerra, embora pense em obsorver-nos, ou que, havendo guerra, não chega, ou mal chega, a invadir-nos. No 1º caso refere-se o Bandarra à atitude da Espanha aquando da primeira invasão francesa; no 2º às pretensões da Espanha durante a guerra europeia recente, em que, mais de uma vez, quer com imitação, quer com apoio, dos alemães, a Espanha pensou em tomar Portugal. O «querer luzir como o sol» refere-se, no 1º caso, à atitude que tomámos, ao lado da Inglaterra nossa aliada, atitude que, embora explicável, excedia, como as invasões provaram, as nossas posses de Estado e organização. Não é mister acrescentar o que no 2º caso estas palavras significam; a fortiori se aplica aquela expressão à nossa intervenção na guerra europeia, em que foi, com efeito, «o nosso mal», querer fazer figura de nação importante, intervindo no teatro central da guerra.

70. Quando a desgraça ou infortúnio (neve) como brasa — como se fosse entusiasmo, ou o contrário de infortúnio, extinguir em nós (queimar) todos os sentimentos naturais (plantas, que nascem na terra), então: dos cinco poderes do Estado (Rei, Ministros e Executivo todo, e os três estados das cortes, clero, nobreza e povo) dois se hão-de ajuntar (Executivo e Povo), sem que seja por vitória de concorrência legítima (jogo) no país (casa), mas por violência (revolução) — 1º caso, a revolução de 1820 em que, embora não fosse eliminado o Rei, ele se não juntou a ela, nem estava cá (para que pudesse, mesmo que quisesse, juntar-se), 2º caso, a revolução de 1910, em que Rei, Clero e Nobreza desapareceram do governo.

71. (...)

 

«Depois de morto o segundo» .

3.º pé

Terá o leitor reparado que, nas profecias directamente referentes ao processus imperial português, se diz que por duas vezes falha a tentativa imperial, embora de cada vez, deixe de si qualquer coisa para ser continuada pela tentativa seguinte, sendo a última a que se realiza. O império de conquista falha, mas sem o império de conquista não poderia o império cultural buscar apoio, pois não teria ideia de império alguma em que se apoiasse. O império de cultura falha, mas, sem esse império de cultural, não teria o Quinto Império âmbito com que cingir aquela universalidade dos homens e das coisas em que, sob a égide de Cristo, fechará o ciclo cristão, ou o do mundo, se houver verdade no conceito que identifica o cristianismo com a história do mundo.

Por estas razões não parece, em verdade, absurdo, que se interprete o verso «Depois de morto o segundo império» como querendo dizer, não «depois de morto o segundo império», mas depois de falhada, ou morta, a segunda tentativa portuguesa de império; em outras palavras, depois de caído o império cultural.

Captive prinse mourir mort miserable,

Sera trouvé avoir les mains rongées,

segundo Nostradamo. E, em verdade, é esta a interpretação que mais se casa com a lógica da quadra, conforme a exprimem os pés anteriores. Há, em ambos os outros pés, seguimento dinástico: num caso segue D. Manuel o Primeiro a D. João o Segundo, em outro caso segue D. João o Quinto a D. Pedro o Segundo. Há descendência dinástica directa tudo adentro de Portugal.

s.d.

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.

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