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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.

Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.

Tu não és mais que um deus a mais no eterno

        Pantéon que preside

        À nossa vida incerta.

Nem maior nem menor que os novos deuses,

Tua sombria forma dolorida

        Trouxe algo que faltava

        Ao número dos divos.

Por isso reina a par de outros no Olimpo,

Ou pela triste terra se quiseres

        Vai enxugar o pranto

        Dos humanos que sofrem.

Não venham, porém, estultos teus cultores

Em teu nome vedar o eterno culto

        Das presenças maiores

        E parceiras da tua.

A esses, sim, do âmago eu odeio

Do crente peito, e a esses eu não sigo,

        Supersticiosos leigos

        Na ciência dos deuses.

Ah, aumentai, não combatendo nunca.

Enriquecei o Olimpo, aos deuses dando

        Cada vez maior força

        Plo número maior.

Basta os males que o Fado as Parcas fez

Por seu intuito natural fazerem.

        Nós homens nos façamos

        Unidos pelos deuses.

9-10-1916

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

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