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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

O inglês é intuitivo em tudo; o alemão pensador e reflectido.

O inglês é intuitivo em tudo; o alemão pensador e reflectido. Veja-se, por ex., no espírito prático, como o inglês é espontâneo e como que intuitivamente prático e comercial ao passo que o tudesco o é reflectidamente e (...) (Ver indicações da verdade disto no panfleto sobre a Alemanha publicado pelo Daily Mail).

A Alemanha nunca poderá ter um poeta dramático como Shakespeare nem um poeta filósofo como Wordsworth — nem, na verdade, como Antero — por isto que para ser um poeta dramático supremo é preciso ser um intuitivo e não um pensador consciente, como para ser um poeta metafísico — um bom poeta metafísico, entenda-se — é necessário ter uma constituição de místico, isto é, de intuitivo, ou então possuir, como o português, pela sua emoção constitucional, o poder de emocionalizar o pensamento, como o fazia Antero, que não era um intuitivo, mas um pensador e um sentimental; como, de resto, nos mostra a sua forte organização moral. Ora Wordsworth não era um sentimental; apenas o pensamento de todas as espécies se lhe apresentava intimamente sentimento — quer dizer, era um místico.

Emerson vê no Fausto, de Goethe, o defeito de ser muito “moderno”. Não é isso que ele sente; a interpretação é má. O que ele realmente sente é que o Fausto não é intuicionado completamente, mas, posto que inspirado, como todos os poemas, pensado e pensado demais.

1915?

Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.

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