PASSAGEM DAS HORAS OU WALT WHITMAN
PASSAGEM DAS HORAS OU WALT WHITMAN
Eu, o ritmista febril
Para quem o parágrafo de versos é uma pessoa inteira,
Para quem, por baixo da metáfora aparente,
Como em estrofe, anti-estrofe, epodo o poema que escrevo,
Que por detrás do delírio construo
Que por detrás de sentir penso
Que amo, expludo, rujo, com ordem e oculta medida,
Eu ante ti quereria ter menos de engenheiro na alma,
Menos de grego das máquinas, de Bacante de Apolo
Nos meus momentos de alma multiplicados em verso.
Mas o ar do mar alto
Chega, por um influxo de dentro do meu sangue
Ao meu cérebro desterrado em terra,
E a fúria com que medito, a raiva com que me domino
Abre-se como uma vela, tomada de vento, aos ares
Ampla servidão ao rasgo de assombro dos (...)
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.
- 224h.