Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Quem vende a verdade, e a que esquina?

Quem vende a verdade, e a que esquina?

Quem dá a hortelã com que temperá-la?

Quem traz para casa a menina

E arruma as jarras da sala?

Quem interroga os baluartes

E conhece o nome dos navios?

Dividi o meu estudo inteiro em partes

E os títulos dos capítulos são vazios...

Meu pobre conhecimento ligeiro,

Andas buscando o estandarte eloquente

Da filarmónica de um Barreiro

Para que não há barco nem gente.

Tapeçarias de parte nenhuma

Quadros virados contra a parede...

Ninguém conhece, ninguém arruma

Ninguém dá nem pede.

Ó coração epitélico e macio,

Colcha de croché do anseio morto,

Grande prolixidade do navio

Que existe só para nunca chegar ao porto.

28-3-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

 - 127.