[Carta a Ophélia Queiroz - 18 Mar. 1920]
Muito agradeço a sua carta.
Muito agradeço a sua carta. Tenho passado muito aborrecido por todas as razões que calcula. Até para tudo ser desagradável, há duas noites que não durmo, pois a angina dá uma saliva constante, e acontece-me esta coisa muito estúpida — eu ter que estar a cuspir de dois em dois minutos, o que não me deixa sossegar. Agora estou ao mesmo tempo melhor e pior do que estava de manhã: tenho menos ardor na garganta, mas tenho outra vez febre, o que de manhã já não tinha. (Notar que esta carta vai escrita no mesmo estilo da sua, por o Osório estar aqui ao pé da cama, de onde eu estou escrevendo, e naturalmente repara de vez em quando para o que eu escrevo.)
Não posso escrever mais, com a febre e as dores de cabeça com que estou. Para responder ao que tu perguntas, as outras coisas, meu amorzinho querido, (oxalá o O. não veja isto), teria que escrever muito mais e não posso.
Desculpa-me sim?
18/3/1920
Fernando Pessoa
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).
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