INTRODUÇÃO AO PROBLEMA NACIONAL
INTRODUÇÃO AO PROBLEMA NACIONAL
O que é uma nação: (1) os vários géneros de agrupamentos humanos — multidão, grupo, sociedade; (2) os vários géneros de agrupamentos naturais — corpo (inorgânico), organismo, organismo social; (3) os vários géneros de sociedades — sociedade primitiva, sociedade improgressiva, sociedade civilizacional. Por nação entende-se aqui um organismo social capaz de progresso e de civilização.
A vitalidade nacional: (1) uma nação forte na proporção em que: (a) tem uma individualidade própria; (b) responde facilmente às influências estrangeiras; (c) é capaz de criar novos elementos civilizacionais; (2) os períodos de exaltação e depressão das nacionalidades dependem de leis sociais desconhecidas, cuja acção porém se revela produzindo aqueles resultados; são de três ordens: (a) o período em que uma nação simplesmente tem uma individualidade própria; (b) o período em que uma nação, sobre ter uma individualidade própria, responde facilmente às influências estranhas; (c) o período em que uma nação, além de ter uma individualidade própria, e de responder facilmente às influências estrangeiras, cria elementos civilizacionais (melhor: (a) uma destas coisas; (b) duas destas coisas; (c) as três destas coisas); (3) segundo as nações estes elementos variam; há as: (a) nações criadoras, que são aquelas que no seu período simples, sem ter individualidade própria nem responder facilmente às influências estranhas, são contudo criadoras; estas nações apresentam no seu período médio uma junção dessa qualidade criadora basilar com a de responder a influências estranhas, e no seu período máximo reúnem as três qualidades; (b) nações distribuidoras: são aquelas cujo primeiro período se manifesta pela maneira como respondem às influências estranhas; cujo segundo período se revela através de, além disso, criar uma individualidade; e cujo terceiro período reúne as três coisas; (c) nações tipificadoras: são aquelas que no seu baixo período apenas se revelam como individualidades; que no segundo período se revelam como isso e como criadoras; e no seu terceiro período as três coisas juntas, como de costume. A importância civilizacional das nações é, segundo esta escala: 1.º aquelas que acima de tudo são criadoras, mesmo no seu baixo período; 2.º aquelas que são influenciadas pelo estrangeiro, isto é, canalizadoras, o que é uma espécie inferior de criação, no seu mínimo período; 3.º aquelas que no seu ínfimo período são típicas de si próprias apenas.
Formas da vida nacional: A vida nacional apresenta três formas, conforme se encare sob o ponto de vista: (a) da sua constituição como agrupamento de indivíduos (supra I. 1); (b) da sua constituição como organismo social (supra I. 2); (c) da sua constituição como sociedade civilizacional (supra I. 3).— (a) [ … ]
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
- 15.