[Carta a Ophélia Queiroz - b]
Meu querido Bebezinho:
Afinal vim a pé de Belém à Estrela. O comboio seguinte saía de Algés ao meio-dia, e eram apenas onze horas quando te deixei. Não estive para esperar por esse comboio, nem por qualquer camião. Meti a caminho até à Calçada das Necessidades (lembras-te dela? e do Largo do Rilvas, por onde também passei?) e de ali directamente à Estrela. Cheguei a casa eram 10 para o meio-dia. Ainda assim foi depressa; e o curioso é que não me cansei nada, mas absolutamente nada.
Ainda bem que ficaste hoje mais bem disposta, ao ver o teu Nininho. O Nininho passa amanhã na tua rua entre as horas combinadas — 11 para as 11 e meia.
Não sei se hoje me será possível passar à hora que tu indicas no Largo de Camões. Em todo o caso, pode bem ser, pois tenho que ir para casa pelo Príncipe Real, e o meu caminho para o Príncipe Real é sempre pela Avenida e Rua da Alegria. — Verdade seja que não há vantagem em te escrever isto, pois quando receberes esta carta já saberás se me viste ou não hoje a essa hora.
Adeus, Bebé do Nininho.
Muitos e muitos beijos do teu, mto teu
Fernando
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).
- III.