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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

[Carta a Ophélia Queiroz - 25 Mar. 1920]

Meu querido amorzinho:

Tenho andado hoje todo o dia a monte, não tenho ponto onde estar; quer dizer, tenho andado do Martinho da Arcada para o Martinho do L. do Camões, e ao contrário, todo o dia. Isto é muito maçador, (além de ser dispendioso) para quem já não tem o hábito, e portanto não tem o gosto, de andar a fazer vida de café.

Vamos a ver como arranjo a minha vida, para não andar em passeios destes. E tudo isto por causa da firma Felix, Valladas e Freitas, Lda.; visto que o Valladas evidentemente me não quer lá, e a casa é em parte dele, e meu primo não tem alma para se impor, ou, pelo menos, para se opor. Enfim, já te expliquei as coisas ainda agora...

Vamos a ver se consigo entregar esta carta ao Osório, para ele ta dar hoje. Oxalá não haja complicação.

Olha, Ophelinha: não haverá maneira, lugar e hora de a gente se encontrar um dia qualquer de modo a poder falar um pouco mais do que o quarto de hora que se leva de caminho do Corpo Santo até casa da tua irmã?

Amanhã, quando nos encontrarmos à hora do costume, vê se arranjas maneira de me indicar qualquer coisa neste sentido.

Continuo cansado, mas agora é o cansaço estúpido de não ter feito nada todo o dia. Quer dizer, não perdi o dia, pois tive uma conversa longa e muito importante (sobre questões de negócios) com um amigo meu. Mas estou cansado e do que tinha que fazer nada (quase) ficou feito.

Quero ver se vou hoje mais cedo para Benfica para lá começar a arranjar certas coisas para a mudança. Era excelente se eu pudesse encontrar-te no domingo, de tarde por exemplo.

Adeus, amor. Beijos, beijinhos, beijões, beijocos, beijocas, e beijerinzinhos do teu, sempre e muito teu

Fernando

25/3/1920

25-3-1920

Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).

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