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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Lenta e quieta a sombra vasta

Lenta e quieta a sombra vasta

Cobre o que vejo menos já.

Pouco somos, pouco nos basta.

O mundo tira o que nos dá.

Que nos contente o pouco que há.

A noite, vindo corno nada,

Lembra-me quem deixei de ser,

A curva anónima da estrada

Faz-me lembrar, faz-me esquecer,

Faz-me ter pena e ter de a ter.

Ó largos campos já cinzentos

Na noite, para além de mim,

Vou amanhã meus pensamentos

Enterrar onde estais assim.

Vou ter aí sossego e fim.

Poesia! Nada! A hora desce

Sem qualidade ou emoção.

Meu coração o que é que esquece?

Se é o que eu sinto que foi vão,

Porque me dói o coração?

17-11-1930

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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