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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

A esperança como um fósforo inda aceso,

A esperança como um fósforo inda aceso,

Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso.

A falha social do meu destino

Reconheci, como um mendigo preso.

Cada dia me traz com que esperar

O que dia nenhum poderá dar.

Cada dia me cansa da esperança...

Mas viver é esperar e se cansar.

O prometido nunca será dado

Porque no prometer cumpriu-se o fado.

O que se espera, se a esperança é gosto,

Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.

Quanta acha vingança contra o fado

Nem deu o verso que a dissesse, e o dado

Rolou da mesa abaixo, oculta a carta,

Nem o buscou o jogador cansado.

22-11-1928

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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