Fernando Pessoa
O CONTRA-SÍMBOLO
O CONTRA-SÍMBOLO
Uma só luz sombreia o cais
Há um som de barco que vai indo.
Horror! Não nos vemos mais!
A maresia vem subindo.
E o cheiro prateado a mar morto
Cerra a atmosfera de pensar
Até tomar-se este como porto
E este cais a bruxulear
Um apeadeiro universal
Onde cada um espera isolado
Ao ruído — mar ou pinheiral? —
O expresso inútil atrasado.
E no desdobre da memória
O viajante indefinido
Ouve contar-se só a história
Do cais morto do barco ido
30-1-1926
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).
- 68.