LITERATURA DA DECADÊNCIA
LITERATURA DA DECADÊNCIA
Tende o poeta usual e puramente de sentimento a cair no defeito da retórica e da pieguice; tende o poeta místico a cair no defeito do excesso de mistura do ideal e do real, do espiritua1 e do terreno; tende, finalmente, o poeta simples e realista a cair no defeito da expressão chã ou trivial. São estes os três defeitos a que costuma descer a poesia sã: exagero do sentimento poético, deficiência do sentimento poético, e confusão do sentimento poético.
Mas o género de defeitos em que de ordinário os decadentes caem não pertence a nenhuma dessas categorias. Sem dúvida que os decadentes têm todos os 3 defeitos citados, e vulgarmente os têm — em especial o do prosaísmo. Mas o defeito natural nas obras deles não é nenhurn dos apontados. É um outro mais curioso, o qual consiste na justaposição delirante dos epítetos, na incoerência geral do frasear. É o [...] usual do místico.
Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.
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