[Carta a Ophélia Queiroz - 18 Set. 1929]
Requerimento em 30 linhas
Fernando Pessoa, solteiro, maior, abreviado, morador onde Deus é servido conceder-lhe que more, em companhia de diversas aranhas, moscas, mosquitos e outros elementos auxiliares do bom estado das casas e dos sonos; tendo recebido indicação — aliás apenas telefónica — de que poderá ser tratado como [ 10 linhas ] gente a partir de uma data a fixar, e de que o referido tratamento de como se fosse gente seria constituído por, não um beijo, mas a simples promessa dele, a ser adiado indefinidamente, e até ele Fernando Pessoa provar que (1) tem 8 meses de idade, (2) é bonito, (3) existe, (4) agrada à entidade encarregada da distribuição da [ 20 linhas ] mercadoria, e (5) não se suicida antes do assunto, como era sua obrigação natural; requer, para tranquilidade da pessoa encarregada da distribuição da mercadoria, que lhe seja passado atestado em como (1) não tem 8 meses de idade, (2) é um estafermo, (3) nem mesmo existe, (4) é desprezado [ 30 linhas ] pela entidade distribuidora, (5) suicidou-se.
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Acabam as 30 linhas.
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Aqui devia pôr-se «Espera deferimento», mas não espera nada o
Fernando
ABEL.
18.9.29
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).
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