Fernando Pessoa
Bóiam farrapos de sombra
Bóiam farrapos de sombra
Em torno ao que não sei ser
É todo um céu que se escombra
Sem me o deixar entrever.
O mistério das alturas
Desfaz-se em ritmos sem forma
Nas desregradas negruras
Com que o ar se treva torna.
Mas em tudo isto, que faz
O universo um ser desfeito,
Guardei, como a minha paz,
A esperança, que a dor me traz,
Apertada contra o peito.
3-4-1934
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).
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