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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

[Carta a Ophélia Queiroz - 26 Mar. 1920]

Meu querido Bebé pequeníssimo:

Estou no Martinho da Arcada, são 3 e meia da tarde, e tenho «completo» o meu dia — isto é, está feito tudo

quanto, de alguma importância, eu tinha que fazer antes das 6 horas. (Digo «antes das 6 horas» porque depois das

6 tenho que tratar de assuntos na Estrela). Sabes? Fui há perto de uma hora à Rua de Santa Marta, onde estão agora as cartas dos apartados. Para o snr. Crosse não havia nada (naturalmente a «libra» ou não chegou ainda ou vem registada, e ainda não distribuem os registos); nem havia nada para o Apartado 146, de meu primo. Com grande pasmo meu, porém, encontrei para o apartado 147 (o meu), além de uma carta e um postal para mim, uma carta para minha mãe e outra para um dos meus irmãos ! Como estas cartas têm carimbos de origem de 17 e 18 de Fevereiro, vejo que eles já não estavam no Transval nessa altura. Tenho, pois, por quase certo que embarcaram no «Lourenço Marques» e devem chegar a 4 de Abril, como te disse que chegariam se viessem nesse vapor.

Vou agora activar tudo. Vou passar alguns dias bonitos de trabalho. O que vou hoje fazer à Estrela é (não ver a mulher loura de olhos azuis!!!) mas tratar da mudança da mobília de minha mãe para a casa de lá.

Estou novamente com dores de garganta, e com medo de recair. Olha que brincadeira que era recair nesta altura, hein?!

Já tenho os meus papéis na [ ... ]

Adeus, amor; pensa às vezes em mim, quando não estiveres distraída... Estou convencido (por minha parte) que gosto de ti. Sim, creio poder afirmar que tenho para contigo uma certa afeição.

Um regimento de beijinhos, do teu, sempre e muito teu

Fernando

26/3/1920

26-3-1920

Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).

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