Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Oiço passar o vento na noite.

Oiço passar o vento na noite.

Sente-se no ar, alto, o açoute

De não sei que ser em não sei quando.

Tudo se ouve, nada se vê.

Ah, tudo é igualdade e analogia.

O vento que passa, esta noite fria.

São outra coisa que a noite e o vento —

Sombras de Ser e de Pensamento.

Tudo nos marca o que nos diz.

Não sei que drama a pensar desfiz

Que a noite e o vento passados são.

Ouvi. Pensando-o, ouvi-o em vão.

Tudo é uníssono e semelhante.

O vento cessa e, noite adiante,

Começa o dia e ignorado existo.

Mas o que foi não é nada disto.

24-9-1923

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

 - 52.