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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Não sei se houve alguma vez espírito especulativo ou curioso...

DOIS RITMOS

Não sei se houve alguma vez espírito especulativo ou curioso que tentasse distinguir as civilizações antigas das modernas — entendendo por antigas a grega e a romana apenas — pela diferença dos sistemas rítmicos empregados no verso.

O facto de que os gregos e os romanos usavam do sistema quantitativo para a medida de seus versos, quando os povos modernos se servem do sistema acentual e da rima tem por certo um sentido de distinção.

Por fácil que se tornasse pelo hábito de assim escrever, certo é que o ritmo quantitativo é muito mais difícil de usar que o ritmo acentual.

A civilização greco-romana tornava difícil a vitória; nós tornamos fácil o fingimento dela.

Para fazer versos em grego ou em latim é preciso muito mais esforço que para fazê-los em qualquer língua moderna.

A barreira da quantidade tem seu par na barreira da servidão.

1930

Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,

1994.

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