Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Tudo que sinto, tudo quanto penso,

Tudo que sinto, tudo quanto penso,

Sem que eu o queira se me converteu

Numa vasta planície, um vago extenso

Onde há só nada sob o nulo céu.

Não existo senão para saber

Que não existo, e, como a recordar,

Vejo boiar a inércia do meu ser

No meu ser sem inércia, inútil mar.

Sargaço fluido de uma hora incerta,

Quem me dará que o tenha por visão?

Nada, nem o que tolda a descoberta

Com o saber que existe o coração.

9-5-1934

Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).

 - 104.