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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Se em verdade não sabes (nem sustentas

Se em verdade não sabes (nem sustentas

Que sabes) que há na vida mais que a vida,

Porque com tanto esforço e cura tanta,

        Operoso a não vives?

Porque, sem paraíso que apeteças,

Amontoas riquezas, nem as gastas,

É para teu cadáver que amontoas?

        Gozas menos que ganhas.

Ah, se não tens que esperes, salvo a morte,

Não cures mais que do preciso esforço

Para passar incólume na vida

        De (...)

Sim, gozas. Mas mais rico és que ditoso

Se só para o que perdes gozas,

Menos te o esforço oneraria,

        Sem ele. (...)

Ah servidão irreprimível, nada

Da vida breve subsiste, que sabes

Que morre toda, e gasta-se nas obras

Egoísta de um futuro que não é seu.

Mas respondes-me: E os poemas que escreves

A quem os dás futuro? A obra obrigas

E o homem só por semear semeia

        O que o Destino manda.

29-10-1923

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

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